domingo, 11 de março de 2007

Personalida Siderada (ou esquizofrenia enquadrada?)


Teste de personalidade: meia dúzia de palavras bem traduzem o intrincado cinzento das conexões neurais?
Teste de personalidade: o que se testa, afinal? Funciona bem a lâmpada, melhor encaixada, na rosca fria do conforto humano. Veja-se bem se não há mal contato, e se elétrons revoltosos não causarão a desiluminação esquizofrênica de algumas noites de insônia.
Noites essas em que se sente uma mão quente por baixo dos lençóis, e uma fria voz sussurrando palavras de medo revolve antigas lembranças. Aquele seu pecado infantil, o riso sádico da mão que empurra outra criança ao chão. Aquela sua mania de organização, suas listas de atividades devassadas pela correria dos caros parados nos faróis. O monstro que o/a espreita sob a sua cama, sentindo os suspiros pesados do seu peito arfante, logo ele ataca!
Testes de personalidade: eles não traduzem o gosto - bom ou ruim? - que sente a sua boca quando se cola a um prazer. Porque testes de personalidade não são capazes de desntinguir o azedume calmo de um sorvete de maracujá e o doce preguiçoso de um de creme. E que importa que os dois sejam amarelos? Semelhanças cromáticas visuais nem sempre correspondem às musicais (embroa preguiça e calma costumem andar de mãos dadas!). Que sabor teria uma escala maior?
Não consigo responder. Talvez fosse algo carregado de açúcar, porque isso muito me agrada o paladar. Mas pode ser também que escalas não tenham gosto. São como abraços - o toque das mãos pode ser diferente, ah, mas quem não sabe o que é um aperto peito a peito sincero? E quem também não sabe como soa menor um finjido tapinha nas costas, que por questões de bom convívio social não é deslocado da cara odiada para a inocente altura dos pulmões. O rosto é forte, bate nele quem afronta! As costas, pobres esquecidas que não vão, mas apenas são levadas. Pior do que golpe de morte nelas é a falsa cordialidade pontiaguda que penetra o sentir fundo, enquanto a boa conduta (ah, desgraça de etiqueta!) cala com chifres demoníacos a desavença sutilmente sentida.
Talvez o maldito questionário pudesse dizer com pompas de especificidade quem suportaria menos, ou pior, o dever de fazer caras e bocas à falsidade alheia. Por mim mesma, digo que tenho a absoluta certeza de que assinalaria todas as alternativas que apontassem para uma tristeza inconformada. Talvez assim as perguntas explicassem porque eu ouço monstros no meu quarto escuro mesmo quando não me sinto culpada por nada e não vejo no meu passado nada do que eu não possa me orgulhar de ter feito. Não que eu tenha ajudado a Terra a parir a Lua e os demais astros, e não que os meus sonhos fossem os mais bonitos. Para quem não dorme, eles eram muito mais nesgas de devaneios coloridos. Turvos, é bem verdade, e nem por isso impunham-se suaves como pinceladas de Monet. Talvez se tivessem um traçado mais forte eu melhor os pudesse compreender.
Talvez, talvez, talvez... Por que a palavra da incerteza tanto se repete? Ora, porque não é certo nada do que aqui expresso. Não é certo, por exemplo, que eu, entendiada pela madrugada que demora a passar, resolva desafiar a atitude defensiva comum e chame meu monstro verde para conversar. Viria ele do espaço sideral? Os grandes olhos curiosos muito me lembram ficção hollywoodiana.

Where are you from, my friend?

Não... idioma não adequado. Seres do espaço nem sempre vêm do Texas, e nem sempre vestem chapéu de cowboy ou fumam charutos trágicos na Casa Branca. Que bom, meu novo amigo clorofilado pode, assim, ser muito mais interessante.
Espanta-me como ele parece solitário. Como de curioso torna-se perdido, olhando com estranhamento para minha camisola rosa choque. Sim, estou apresetando-lhe o inconfundível mau gosto das meninas barbie. Sou eu uma delas? Não sei responder, mas explico-lhe que muitas vezes a humanidade também gosta das cores frias. Não que o azul do céu na minha metróple paulistana não ganhe feias nuances de um marrom incestuoso. Não que não me faltem árvores para clorofilar o tempo que se perde catando ambições jogadas na calçada. Mas... Que saco! Deixem-me ao menos acreditar em borboletas! Deixem-me, para que os questionários se tornem tão inúteis quanto discutir a impassividade do maracujá sobre a incognicidade do creme como coisa em .
Meu amigo espacial. Olhe-me nos olhos. Veja, os seus são tão negros quanto os meus. Medo você tem, e eu temo sete mil furacões vindos em duas ondas de tempestades de amor (ou talvez da falta de Amor!). Dê- me a sua mão. Entrelace seus longos dedos nos meus. Você, minha insônia contemplativa, agora me faz partir, e vou-me além. Você é a asa esquerda do meu vôo, meu real teste de horizonte, de persona libertada, única capaz de romper o tédio cinza de um casulo.
Testes de personalidade: nada que a vontade (não) possa ampliar o gozo da vida! E um frio horizonte de calores sopra ventos de viagens. Quando chegaremos à próxima estrela? Reparo o engano que acabei de fazer há pouco - sim, nós dois parimos novo astro luminoso!