sábado, 24 de fevereiro de 2007

Ironia que Rompe em Lirismo (silêncio!)

Eis aqui um comunicado urgente urgentíssimo: nesse blog, por um bom tempo, nada que diga respeito a política ou julgamentos idelógicos explícitos (porque os implícitos são inevitáveis) será escrito.
Explico por que:
Não sou uma criatura apolítica. Nunca deixei de expressar minhas opiniões. E vou continuar sendo politizada, com uma porção de palpites para a grande maioria dos assuntos que me forem apresentados. Encontrei, porém, uma pessoa interessantíssima e sensata para discutir esses dilemas, alguém que sabe ouvir e respeitar até a pior das asneiras que eu disser. Quem? Meu auter ego! Fora ele, ser humano algum (porque os cães, meus interlocutores preferidos, nessa categoria não contam) ouvirá da minha boca, ou lerá dos meus textos, palavra que defenda qualquer pensamento que, descontando-se a metafísica impraticável, possa ser considerado não alienado. Nem preciso dizer que, como qualquer criatura dotada do mínimo de razão (o que também ocorreria com os paquidermes, caso eles se interessassem por assuntos que dissessem respeito ao bem público) e que no passado tenha possuído alguma nesga de idealismo, estou desiludida.
Eu achava-me à esquerda do pensamento sócio-econômico. Toda afobada que estava, tropecei em simpatizantes de Lula e Chávez. Perguntei aos anfitriões da festa o que aquelas figuras patéticas faziam ali, mas não ouvi teoria póstuma nenhuma que me pudesse explicar o que era aquilo. Marx olhou-me do além com sarcasmo, e deu de ombros. Aposto que ele pensava "depois da União Soviética e do panaca fardado do Mao, o que mais você queria?".
Impossível disfarçar a minha cara de tédio. Eu bem que preferiria fica um pouco mais por ali, mas os stalinistas (loucos ou desprovidos de memória histórica?) empurraram-me para a outra sala, onde eu nunca quis e juro que nunca vou querer ficar. Pronto, o sono tornou-se repulsa. Margareth Tatcher critica meus trajes e cita Adam Smith. No fundo do cômodo, o fantasma do Benito conversa por uma frestinha, cochichando com alguém. Dou de migué, finjo que vou pegar canapés, e eis que o vejo dando conselhos ao novo Ditador da Venezuela. Sempre achei que os dois tinham muito em comum, em nada me surpreende a proximidade de espírito que os dois apresentaram nessa conversa!
Procuro por um bom vinho, antes de logo poder mandar-me para bem longe dessa confusa confraternização feita em prol do futuro da humanidade (e que mais me parece atada ao passado do que qualquer outra coisa!). Tudo o que me sobra é um tinto doce de péssima qualidade, que derrubo, desastradamente, no meu vestido preto - que bem poderia ser de luto. Marta Suplicy se compadece da minha dor de ter o modelito manchado e me oferece lencinhos humidecidos, que aceito com peso da conciência, já que não sei de onde veio o dinheiro que comprou as cheirosas toalinhas givancy dela! Mas que coisa, dona Marta! O que fazia ela à direita da recepção? E como um alien recém nascido de tanto botox ela quase sorri e responde: olha o Lula ali, querida, oferecendo bolinhos a um ditador africano. Quanta gentileza! E ele ainda conversa com uns senhores cheios de documentos na mão (seriam os gentis amigos do FMI?), falam sorrindo sobre pestes em continentes esquecidos, enquanto mastigam entusiasticamente!
Sem mais, o que poderia fazer? Fui embora aos tropeços e, sem remorsos, perdi a oportunidade de ver Heloísa Helena subir em uma cadeira e brigar com os outros garotinhos da sala da esquerda, como a tia do pré primário que puxa a orelha das crianças mal criadas - meninos feios, roubar é pecado! Mais um pouco nessa festa no apê da ideologia, e eu acabaria (e me acabaria, aliás) como ela!
Por isso é que fui embora. E não volto tão cedo! Cá comigo remecho minhas idéis cruas e primárias. Para quem quiser conversar a respeito, encerro por aqui apresentando o melhor do dadaísmo aplicado às questões de estado: dobro meus pensamentos em um supro azul de silêncio, e jogo as mil possibilidades de fala, sobre a perplexidade do ser em si, em um sorteio de palavras. Chá mate me vale mais do que o gran finale da discussão, e não só a tuberculose de Bandera merece um tango! Amém!

Sei que já escrevi nesse mesmo blog sobre a importância da escrita, como forma de expressão, e mesmo de transformação. Pois que continuo a escrever, para mim mesma, sobre o que me parecer relevante. Deixo para a internet apenas suspiros de lirismo e termino essa aberração toda com o lamento determinado de quem faz uma espécie de voto de silêncio! Passemos, enfim, para a próxima postagem.........

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